“É só uma olhadinha rápida” e lá se vão muitos minutos a mais do que o programado.
Na última década, o uso das redes sociais cresceu exponencialmente. As motivações são diversas e incluem a possibilidade de entretenimento, conectar pessoas, fazer novos amigos ou reencontrar os antigos, compartilhar informações, etc. No entanto, seu crescimento também se deve a outro fator.
Numa sociedade marcada pelas mudanças constantes, pelo excesso de informação e pela pressa, parece que estamos sempre perdendo algo. Estamos aqui, mas queremos saber o que está acontecendo em outro canto, mais precisamente nas redes, sobre o que estão postando ou comentando. Tudo ao mesmo tempo.
A gratificação quase instantânea que propicia alguns aplicativos de redes sociais leva o indivíduo a buscar esta forma de prazer como alívio para reduzir o tédio, a solidão ou a ansiedade, uma vez que ver os comentários dos amigos ou as várias curtidas naquela sua foto publicada, por exemplo, ativa áreas de recompensa do cérebro, gerando um bem estar imediato.
Desta forma, não é difícil recorrer a estes aplicativos quando uma chateação ou outra emoção negativa parece rondar a mente. O confinamento obrigatório, em decorrência da pandemia, é um exemplo disso, pois, para muitos, o uso das redes foi uma maneira de amenizar o impacto emocional negativo causado pelo isolamento social.
Contudo, a ideia de sentir-se bem pode fazer mal quando o uso ultrapassa a fronteira daquilo que é considerado apenas uma forma de distração. Assim, qual a linha divisória que causaria perigo à saúde mental?
A resposta está na manifestação de comportamentos como sentir-se inquieto ou irritado quando não consegue acessar, dificuldade em controlar o tempo conectado ou mentir quanto à quantidade de acessos, são algumas possibilidades.
A rede social pode ser um passatempo prazeroso sim, mas é preciso atenção quanto ao uso, já que quando falamos em universo psíquico a questão não é o quê e sim a quantidade. Para entender basta fazer uma analogia com o amor, que apesar de ser um sentimento desejado, em excesso sufoca.
Encarar um sofrimento emocional não é simples e por isto algumas pessoas buscam os excessos como defesa. Visto por este prisma, a rede social não é propriamente a vilã, mas sim a escolha dela como uma válvula de escape para fugir de questões que causam aflição. É uma forma de desconectar de si mesmo. Uma maneira de, ilusoriamente, desplugar daquilo que causa angustia.
Não há nada de errado em utilizar as redes sociais. Porém, elas não devem substituir ou prejudicar as relações interpessoais da vida real. Propõe-se para esse entendimento manter-se por inteiro no momento presente que, apesar de ser um desafio para o ser humano, pode ser feito no exercício diário do próprio relacionar-se.
A dor, e suas múltiplas formas de expressão, é parte da condição humana. Assim, perceber-se, rever o próprio tempo, possibilita a conexão consigo num processo que ajuda a identificar aquilo que faz sofrer. Compreender como cada um de nós lida com a solidão, com o vazio e com a falta é importante para uma vivência mais saudável. A saúde mental agradece.
Créditos: Joselene L. Alvim- psicóloga