
A Polícia Civil de Botucatu (SP) e vereadores de Pardinho(SP) abriram uma sindicância para investigar a suspeita de superfaturamento em compras de material escolar e sapatos que seriam destinados para crianças em situação de vulnerabilidade, mas que foram desviadas para, ao menos, cinco funcionários públicos de Pardinho.
Entre os dias 17 e 20 de janeiro, a Prefeitura de Pardinho fez compras em papelarias e lojas esportivas de Botucatu, com altos preços e notas com suspeita de superfaturamento. Áudios de conversas indicam que as compras teriam sido autorizadas por Antônio Carlos Corulli “Tai”, chefe de compras da prefeitura.
Servidores de Pardinho são suspeitos de comprar produtos pessoais com dinheiro público
Entre os itens adquiridos pela prefeitura estão canetas no valor de R$ 150 a unidade, mochilas a R$ 449 e tênis e sapatos comprados a mais de R$ 400. O total das notas fiscais das compras soma quase R$ 18 mil.
As compras de material escolar e sapatos seriam para crianças que são acolhidas na Casa Transitória do município em situação de vulnerabilidade. Mas, segundo as denúncias, os produtos, na verdade, foram destinados para uso pessoal de funcionários públicos que trabalham na Secretaria de Assistência Social.
Nota fiscal emitida com compras desviadas por funcionários públicos de Pardinho — Foto: Arquivo pessoal
A reportagem da TV TEM teve acesso a áudios do ex-chefe de gabinete, Ricardo Leotta, nos quais ele pede a compra de chuteiras. “Compra aquela Mizuno de 33 de [futebol] campo. A de [futebol] salão pode ser 39, pode ser aquele Nike vermelho mesmo”, diz no áudio.
Em outros áudios e fotos de conversas entre funcionários da Prefeitura de Pardinho, uma mulher fala para “não exagerar” nas compras para “não chamar a atenção”. Depois, ela pede para lançar em nota separada, porque seria de verba diferente.
Além das compras, aparentemente irregulares, em outro áudio, um vereador do município, Renan Ebúrneo (PTB), teria combinado o pagamento de um equipamento de som usado em uma festa particular e pedido à assessora da prefeitura a emissão de nota fiscal.
Conversa entre a assessora da diretora de Assistência Social, Viviane, e a diretora, Raquel, sobre as compras desviadas em Pardinho — Foto: Arquivo pessoal
“Você tinha falado que tinha conversado com ele para ter karaokê e o karaokê é do rapaz, ele me explicou depois. Aí na sexta-feira, na praça, estava eu e o Ricardo lá. Ele chegou [e disse]: ‘amanhã falaram para levar o som’. E eu falei: ‘é mesmo, a Viviane falou para você?’. Quando ele falou: ‘aí eu tenho que acertar para o rapaz’. O Ricardo (chefe de gabinete exonerado) estava perto, aí o Ricardo falou: ‘aí depois emite nota, alguma coisa para ele, aí você repassa para ele’. Então, vai ter que fazer isso, Vi, de pegar uma nota, de tirar uma nota no valor de R$ 300 e o Chitão repassa para ele”, diz o vereador.
Além desses áudios, quando o suposto esquema foi descoberto, a diretora de Assistência Social e a assessora mostraram medo de que somente elas fossem punidas pelas compras irregulares.
Assessora da diretora de Assistência Social e diretora em conversa sobre as compras desviadas em Pardinho — Foto: Arquivo pessoal
“Eu sei que a gente errou, sabe Raquel? Você errou de deixar a gente comprar. Eu errei de ir lá comprar. A Alessandra errou de ir lá comprar. A Rô errou. Todo mundo errou. Todo mundo erra, vem lá de todo mundo e só a gente vai pagar o pato? Então, não é justo”, diz a assessora.
Polícia Civil e vereadores abriram uma sindicância para investigar desvio de compras que seriam para crianças em situação de vulnerabilidade em Pardinho — Foto: Arquivo pessoal
Em outro áudio, a diretora responde: “Viviane, nós é que fomos burras, que fomos pegas. Se o Ricardo contou isso para você, por que você não lembrou ele? Essas notas da Riosul foi pegado chuteira para os seus filhos, tênis para o Tai, para a mulher do Tai. Ele sabe, amiga. Não tem nada de R$ 6 mil de cuecas”, finaliza.
O presidente da Câmara de Pardinho, Aires Nelson Merline (PTB), diz que todos os suspeitos envolvidos no escândalo serão investigados.
A equipe da TV TEM entrou em contato com o ex-chefe de gabinete para pedir um posicionamento, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.
Conversa do chefe de compras da Prefeitura de Pardinho, Antonio Carlos Corulli, com vendedor — Foto: Arquivo pessoal
A diretora e a assessora também foram exoneradas, mas, segundo apurado pela TV TEM, ambas continuam atuando na prefeitura.
A assessora Viviane Marcolino informou, em reposta à TV TEM, que entraria em contato com o advogado para fornecer uma resposta aos questionamentos.
Os outros envolvidos nas conversas vazadas via redes sociais por áudios também não se pronunciaram até a publicação desta matéria.
Prefeitura de Pardinho faz compras em papelarias e lojas esportivas de Botucatu com altos preços e notas superfaturadas — Foto: Arquivo pessoal
O atual chefe de gabinete, Lucas Ramos, que assumiu o cargo na quinta-feira (10), disse em entrevista à TV TEM que, diante dos fatos, o prefeito achou condizente a abertura da sindicância para apuração.
“Estamos investigando todos os fatos que chegaram para a gente. Algumas denúncias a prefeitura ainda está tomando conhecimento. Estamos abrindo uma sindicância para cada tipo de denúncia, seguindo os procedimentos legais para que isso se resolva e a população tenha uma resposta concreta”, explicou.
Ainda segundo Lucas, não é possível afirmar nomes de suspeitos da corrupção, já que a polícia ainda trabalha na investigação.
A Câmara de Pardinho está acompanhando as investigações com relação às denúncias do vereador suspeito de envolvimento. O advogado da Câmara, Thiago Devidé, disse à TV TEM que uma das notas foi assinada pelo prefeito.
“Não sei qual vai ser o direcionamento do Ministério Público daqui para a frente. O fato é que o prefeito não pode alegar desconhecimento de causa sobre essa questão. Muito estranho também é ele ter tomado conhecimento antes, ter relatado os fatos, mas uma pessoa ligada ao prefeito tentou compelir os empresários a cancelarem as notas fiscais, mesmo elas tendo sido emitidas há mais de 40 dias”, diz o advogado.