A rotina de Ana Patrícia Maestrello mudou por completo quando a filha foi diagnosticada com um grave problema na coluna. Aos 35 anos, a moradora de Marília (SP) vende bolos para arrecadar dinheiro e, enfim, conseguir pagar a cirurgia da menina.
A dona de casa contou ao g1 que, desde a última semana de agosto de 2021, precisou pensar novas estratégias para juntar dinheiro para pagar o tratamento da filha, Agatha Rebeca Maestrello, de 12 anos, que foi diagnosticada com Escoliose Idiopática.
“Levei minha filha para fazer o Raio-X no Pronto Atendimento em uma segunda-feira porque uma enfermeira notou que minha filha andava torta. Quando levantamos a blusa dela, notamos que o corpo estava realmente assimétrico”, conta.
Segundo a mãe, a família levou um susto quando o médico que atendeu Agatha apontou uma curvatura de 75 graus na coluna da jovem, sem justificativa médica para tal. Por conta da gravidade, Ana confirmou que não há solução, a não ser a cirurgia.
“O doutor nos explicou que Idiopática significa sem causa aparente, ou seja, a medicina não se explica da onde veio o problema. Sabemos que não é problema de postura e nem genética, foi de repente. O médico também disse que nem fisioterapia resolve”, salienta.
Ainda segundo Ana, a família conseguiu uma vaga na fila do Sistema Único de Saúde (SUS) para o atendimento da menina. Porém, logo em seguida, a mãe conta que recebeu uma carta dos médicos informando que Marília não conseguiria realizar a cirurgia por não possuir os materiais adequados para pessoas na idade de Agatha.
“Ela tem 12 anos e os médicos de Marília não tem como realizar o procedimento nela. Segundo eles, por não ter o material para essa idade. Então, eles me encaminharam para o Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo e lá fui eu e mais consultas com minha filha”, comenta.
Na capital, segundo a mãe, Agatha passou por duas consultas, uma em setembro e outra em novembro, quando soube que o quadro da filha era realmente grave, mas que a menina estava na fila do Sus, que poderia variar de 5 a 10 anos de espera para o atendimento.
“Eu tenho uma carta de cirurgia de urgência e uma que fala dos riscos que minha filha corre, assinada pelo HC de SP. Desde que descobrimos a doença, ela precisou sair da escola porque ela não pode ficar muito tempo sentada na carteira e nem segurar a mochila. Esse ano ela deve voltar para a escola só se passar pela cirurgia”, diz.
Ana Patrícia Maestrello vende bolo para pagar cirurgia de tratamento para problema grave na coluna de filha, Agatha Rebeca Maestrello, diagnosticada com Escoliose Idiopática — Foto: Ana Patrícia Maestrello /Arquivo Pessoal
Ana Patrícia ainda disse está “correndo contra o tempo” na venda dos bolos para tentar a cirurgia por hospitais particulares, por conta do caráter emergencial e pela grande fila do Sus, que não apresenta previsão de data pelo sistema público.
“Preciso do dinheiro para a Agatha ser operada, com o dinheiro em mãos eu entrego para o hospital e eles marcam a cirurgia”, informou.
O valor para a cirurgia da menina é cerca de R$ 150 mil, se realizada em Cuiabá (MT). Segundo Ana, outra mãe em SP indicou o médico na capital mato-grossense como “porta de escape” para os valores excessivos das cidades paulistas.
“Mesmo sendo mais longe e difícil para a nossa família se locomover até Cuiabá, eu preferi publicar que era esse valor porque foi a ‘porta de escape’ para os valores que orcei em SP. Mas, independente, para nós não tem distância na busca do tratamento, só queremos que a Agatha tenha uma qualidade de vida melhor”, conta.
Com as vendas de bolos retomadas em janeiro deste ano, Ana diz que a “corrida contra o tempo” se explica pela progressão silenciosa da escoliose. Segundo ela, a cada dia a filha encurva mais, o que prejudica a autoestima da menina.
“As roupas já não servem mais, ela fica envergonhada perto dos amigos e da família. Antes ela desfilava, hoje ela não vai mais. Para piorar, sabemos que a escoliose compromete os órgãos também, a função pulmonar e o coração”, lamenta.
Entre as opções prediletas de sabores da sobremesa, conhecida como “bolo tipo piscina”, do público, Ana diz que cenoura, beijinho e brigadeiro são os que mais vendem. Porém, a mãe lamenta ao afirmar que a batalha está só começando, já que arrecadou apenas 10% do pretendido.
“Tem dias que vendem, tem dias que não. Preciso de pelo menos R$ 150 mil e até então arrecadei R$ 15 mil. É um começo, mas ainda não é suficiente”, finaliza.
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