O principal chefe da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, foi condenado a 12 anos de prisão em regime inicial fechado por planejar o resgate de integrantes da organização da cadeia e ordenar o assassinato de autoridades.
A decisão, do juiz Deyvison Heberth dos Reis, da 3ª Vara do Fórum da Comarca de Presidente Venceslau (SP), ainda condenou Júlio César Figueira, conhecido como Taison, e Mauro César dos Santos Silva, também apontados como integrantes da facção, e suas respectivas companheiras.
Segundo a denúncia do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP), ao longo do ano de 2018, o Núcleo de Inteligência da Coordenadoria Regional das Unidades Prisionais do Oeste Paulista (Croeste) identificou, com apoio de colaboradores, um plano de resgate de integrantes da organização criminosa, que estavam presos na Penitenciária Maurício Henrique Guimarães Pereira, a P2, em Presidente Venceslau. Um dos beneficiados com o resgate seria o próprio Marcola.
As informações apuradas pela Croeste, que é um órgão da Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo (SAP), indicaram o gasto de milhões de dólares no plano de resgate, que envolvia organização da logística, compra de veículos blindados, aeronaves, material bélico, armamento de guerra e treinamento de pessoal na Bolívia.
A organização criminosa, segundo a denúncia, planejava o cerco do Batalhão da Polícia Militar na cidade, impossibilitando o voo do Helicóptero Águia, e o ataque na subestação de energia elétrica de Presidente Venceslau, com o objetivo de deixar o município sem energia.
Diante dessas informações, o governo do Estado de São Paulo deslocou para a região um grande efetivo de policiais militares, viaturas e armamentos pertencentes a Batalhões de Ações Especiais da Polícia Militar paulista, para evitar a ação da facção.
Na época, o aeroporto de Presidente Venceslau foi interditado para pousos e decolagens de aviões, com colocação de barreiras espalhadas pela pista, e foi montado um sistema de segurança com metralhadoras capazes de abater aeronaves, além de barricadas para impedir a derrubada do portão do presídio.
No dia 27 de outubro de 2018, por volta das 9h50, uma das câmeras de segurança registrou a imagem do sobrevoo de um drone nas imediações da unidade prisional. Segundo a denúncia, esse é um método utilizado pelo PCC nas grandes ações contra empresas de valores, agências bancárias ou resgate de presos.
A situação levou o Ministério Público Estadual a pedir a transferência para presídios federais dos integrantes da cúpula do PCC que estavam na P2, entre eles Marcola. O pedido foi feito em 28 de novembro de 2018. A transferência dos chefes da facção paulista foi realizada em fevereiro de 2019.
Integrantes do PCC foram transferidos para presídios federais em fevereiro de 2019 — Foto: Heloise Hamada/g1
As investigações tiveram início logo depois da apreensão de cartas que estavam com as companheiras de Júlio e Mauro, quando deixavam a P2 após visitarem seus companheiros. Duas dessas cartas estavam codificadas.
A análise e a decodificação dessas cartas apreendidas revelaram ordem para os assassinatos do promotor de Justiça Lincoln Gakiya, membro do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) responsável pelo pedido de transferência dos chefes do PCC, e do coordenador da Croeste, Roberto Medina.
Uma das anotações tinha a seguinte mensagem: “se o amigo [Marcola] aqui for pra Federal é pra colocar no chão (executar) de qualquer forma”.
O Ministério Público alegou na denúncia apresentada à Justiça que não se tratou de uma iniciativa isolada, pois, no dia 21 de janeiro de 2019, no pátio da Penitenciária de Junqueirópolis (SP), servidores localizaram anotações contendo ameaças de morte e ordens para efetivar levantamentos sobre as rotinas diárias de agentes públicos, como placa, cor do carro, horários e endereços, além de mapas, para eventuais ataques e execuções, ratificando o conteúdo das cartas apreendidas com as mulheres dos chefes do PCC que estavam na P2.
As penas impostas aos réus na sentença foram as seguintes:
Já as companheiras de Mauro e Júlio foram ambas condenadas à pena de quatro anos e seis meses de reclusão, no regime inicial semiaberto.
No dia 3 de março deste ano, Marcola foi transferido da Penitenciária Federal de Brasília (DF). O Departamento Penitenciário Nacional (Depen) não divulgou a unidade de destino de Marcola “por questões de segurança”. O chefe da facção criminosa estava preso no Distrito Federal desde 2019.
O g1 não conseguiu contato nesta quarta-feira (9) com as defesas dos réus.
Em suas manifestações à Justiça, os advogados de defesa dos réus alegaram a insuficiência de provas contra seus clientes e pediram a absolvição de todos os cinco envolvidos.