A Fundação Nacional de Artes (Funarte) promove nesta quinta-feira (10) o relançamento gratuito, e com recursos de acessibilidade, de documentários do Projeto Pixinguinha, em seu canal no YouTube. O produtor e diretor artístico da Funarte, Paulo César Soares, disse que um dos papéis mais importantes para quem trabalha na área de artes é permitir o acesso às coisas.
“Agora, em que tudo precisa estar viável pela internet com um clique, nesse caso adaptado às pessoas que não tinham acesso, a iniciativa é motivo de alegria. Estamos falando de inclusão e incluir é criar condições para que pessoas com algum tipo de deficiência possam ter acesso ao campo da arte. Acho que isso é uma vitória”. O diretor admitiu que a questão da acessibilidade não é nova, mas que quando se coloca adaptada a um acervo, vira nova.
Publicados com recursos de acessibilidade – Libras, closed caption (legenda oculta) e audiodescrição -, os vídeos documentam a trajetória do programa que celebrou a memória do músico Alfredo da Rocha Vianna Filho, conhecido como Pixinguinha, e que circulou pelo Brasil em diferentes fases, de 1977 a 2017.
O relançamento ocorre no mês em que se completam 49 anos da morte de Pixinguinha, aos 75 anos de idade, no dia 17 de fevereiro de 1973. O músico faria 125 anos em 4 de maio deste ano. No conjunto de vídeos que será lançado, o público poderá conferir também, gratuitamente, filme em comemoração aos 120 anos do compositor, divulgado em 2017, com depoimentos dos letristas Hermínio Bello de Carvalho e Paulo César Pinheiro, do fotógrafo Walter Firmo e do arranjador Paulo Aragão, informou a Funarte.
Para Paulo César Soares, o Projeto Pixinguinha continua sendo uma vitrine da música brasileira. “O projeto mostrou o que a música brasileira produzia de norte a sul, de leste a oeste”. Ele destacou que os talentos existem em todo o país mas, às vezes, não têm oportunidade de se mostrar. “E o Projeto Pixinguinha dá essa oportunidade”.
Segundo o diretor, a Funarte estuda a possibilidade de dar seguimento ao projeto, com shows artísticos a preços populares, bem dirigidos e bem roteirizados, com duração de uma hora e quinze minutos, contemplando os formatos presencial e online. A intenção é que seja feito o mais breve possível, embora sejam necessários recursos para transformar o projeto em realidade.
A publicação dos vídeos do Projeto Pixinguinha é uma das ações da Funarte de divulgação do material que compõe o Brasil Memória das Artes (BMA) no Youtube. O projeto de digitalização do acervo para acesso virtual começou no início dos anos 2000, com itens variados da coleção da Funarte, como fotografias, arquivos sonoros, textos e documentos, que fazem parte da memória das artes cênicas, das artes plásticas e da música brasileira. Paulo César Soares destacou a importância do Projeto Pixinguinha pela “robustez de gêneros musicais e de músicos participantes”.
Em 1977, o produtor, animador cultural, poeta e pesquisador musical Hermínio Bello de Carvalho idealizou o Projeto Pixinguinha. A iniciativa, da Funarte, tornou-se importante capítulo da trajetória da música popular brasileira. O projeto previa a circulação de intérpretes, músicos e toda a equipe técnica pelo país. A ação funcionou regularmente de 1977 a 1989 e teve dois períodos de suspensão, de 1990 a 1992 e de 1997 a 2002.
A retomada ocorreu entre 2004 e 2007, com as duas últimas versões em 2009 e em 2017. Cantores e compositores famosos passaram pelo projeto, entre eles Cartola, Alceu Valença, Ademilde Fonseca, Edu Lobo, Clementina de Jesus e João Bosco.
Um dos vídeos disponibilizados agora no YouTube com recursos de acessibilidade é a primeira audição do Projeto Pixinguinha, na qual gravações raras de 1977 funcionam como ponto de partida para uma conversa entre especialistas. O vídeo Projeto Pixinguinha: segunda parte da audição comentada mostra, também com a participação de especialistas, as atuações de Jards Macalé, Carmem Costa, Lúcio Alves e Cartola.
De acordo com dados fornecidos pela Funarte, outros vídeos abordam as origens e bases do projeto, com participação da cantora Dóris Monteiro e do dramaturgo João das Neve. Também documentam a retomada do programa, de 2004 a 2007, incluindo material do DVD lançado sobre a temporada de 2005, com documentário e clipes musicais.
Até 2016, o dia 23 de abril era considerado a data de aniversário de Pixinguinha. Graças a pesquisa do músico Alexandre Dias no cartório onde o artista foi registrado, verificou-se que a data correta do nascimento é 4 de maio de 1897. O compositor, maestro, arranjador e instrumentista nasceu no Rio de Janeiro e cresceu na região central da capital fluminense, com os pais e 13 irmãos.
Formou o conjunto Oito Batutas, em 1919, com o irmão China e os músicos Donga, Nelson Alves, Jacob Palmieri e José Alves de Lima. No mesmo ano, o grupo passou por São Paulo e Minas Gerais, patrocinado por Arnaldo Guinle. Em 1921, excursionou pela Bahia e Pernambuco, para fazer shows e pesquisar gêneros musicais brasileiros. Pixinguinha é considerado o pai do choro, gênero musical baseado na formação flauta, violão e cavaquinho.