De acordo com a polícia, denúncias de várias mães, ouvidas pelo g1 e não identificadas pela reportagem, apontam que supostamente a profissional teria ofendido as crianças.
Além disso, prints de conversas mostram que Bianca pode ter tentado forjar os atendimentos às crianças. Segundo os relatos, as conversas seriam de agosto de 2021 (veja abaixo).
“Dá uma disfarçada, sabe, finge que eu tô atendendo” e “Eu não vou à tarde para a clínica amiga, inventei para a [nome] que tenho reunião” são algumas das frases que compõem as conversas apresentadas, segundo as mães.
Fonoaudióloga suspeita de torturar crianças autistas em clínica xingava pacientes em mensagens em Duartina — Foto: Arquivo pessoal
O g1 também conversou com uma ex-funcionária, que teria registrado imagens, áudio e vídeos das crianças durante o atendimento. O material foi encaminhado à polícia.
Contratada como acompanhante terapêutica de um dos meninos atendidos, a mulher disse que a fonoaudióloga a instruía a supostamente forjar os atendimentos não realizados nas agendas das crianças.
Além disso, segundo ela, a profissional teria mantido pacientes trancados em uma sala específica chamada de “sala de luz”.
Fonoaudióloga suspeita de torturar crianças autistas em clínica xingava pacientes em mensagens — Foto: Arquivo pessoal
A Polícia Civil de Duartina investiga as denúncias das mães. De acordo com o delegado Paulo Calil, as filmagens foram encaminhadas para perícia e serão avaliadas. O delegado responsável pelo caso também disse que apura o suposto crime de tortura.
Em nota, a defesa da fonoaudióloga informou que colabora com as investigações policiais. Além disso, afirmou que a família teve de sair da casa com medo de represálias.
“A defesa aguarda o laudo dos vídeos e colabora com as investigações. Sobre os prints, a defesa não irá se manifestar para preservar as partes envolvidas e por entender que o processo irá tramitar em segredo de Justiça”, disse a defesa por telefone.
A ex-funcionária contratada como acompanhante de um dos meninos foi quem fez a denúncia à polícia. Ela afirmou que optou por formalizar o caso quando viu a criança receber um tapa. Segundo ela contou ao g1, ficou abalada psicologicamente com a situação.
Em entrevista ao g1, uma mãe contou que, assim que o filho, diagnosticado com TEA entre o grau leve e o moderado, completou três anos, o encaminhou a uma pediatra na Unidade Básica de Saúde (UBS) para consulta de rotina.
Na consulta, o menino não autorizou o toque nas partes íntimas, o que estimulou uma desconfiança da mãe. Por isso, a criança foi encaminhada a uma psicóloga.
Mães denunciam agressões e tortura contra crianças autistas em clínica particular em Duartina — Foto: Arquivo pessoal
Ela recomendou que a mãe gravasse um vídeo em que pergunta ao menino a respeito do órgão genital, relacionando ao período em que ele foi atendido pela fonoaudióloga.
No vídeo, enviado ao g1, a mãe pergunta: “onde a tia pegava e colocava a mãozinha?”. Logo o menino responde e aponta com o dedo sob a fralda: “aqui”(assista no topo da matéria).
Segundo a denúncia de uma mãe, criança era trancada em salas no consultório da fonoaudióloga — Foto: Arquivo pessoal
Outra mãe ouvida pela reportagem contou que o filho, de nove anos, era trancado em salas no consultório da fonoaudióloga. Ela descobriu o ocorrido quando foi chamada à delegacia e viu a foto que mostra as mãos do menino no vidro (veja acima).
Contudo, a mãe lembra que começou a perceber que o filho não estava evoluindo no tratamento desde o final de 2020. Por isso, quando foi chamada à delegacia, ela acreditava que se tratava da denúncia de falta de atendimento, já que um boletim de ocorrência desse teor já havia sido registrado.
Ainda segundo esta mãe, o filho voltava para a casa com as roupas urinadas e, algumas vezes, sem camiseta. No mesmo dia em que foi à delegacia, a mãe recorda que parou de levar o menino às consultas.
Segundo denuncia da mãe, o filho voltava para a casa com as roupas urinadas e, algumas vezes, sem camiseta — Foto: Arquivo pessoal
Uma terceira mãe entrou em contato com o g1 e explicou, bastante emocionada, que o filho, de seis anos, teria sido agredido na boca pela fonoaudióloga. Segundo ela conta, a criança levou um tapa por ter mordido a profissional.
O menino foi diagnosticado com autismo também em grau severo e, desde os dois anos, é levado para o acompanhamento multidisciplinar. Há dois anos, segundo a mulher, o filho também não demonstra evolução no tratamento.