Segundo a defesa, a certidão com o endereço indicado foi enviada há pouco mais de 48 horas e, por isso, o frei Gustavo Trindade dos Santos, de 37 anos, precisa de mais tempo para efetivar o deslocamento.
“Não é uma simples viagem a passeio, mas, sim, uma mudança por tempo indeterminado”, disse a defesa.
De acordo com o novo pedido do delegado Valdir Alves de Oliveira para a prisão preventiva, o frei estaria dificultando as investigações. No documento, o delegado afirma que o padre informou um novo endereço em São Paulo e os policiais se prontificaram em ouvi-lo. No entanto, ele ainda não se encontrava nesse novo local.
“O investigado turba a investigação, fazendo a equipe policial se deslocar para outra cidade a seu pedido, enquanto fornece endereço nos autos, onde essa autoridade policial se prontificou a notificá-lo e ouvi-lo em São Paulo (já que o mesmo divulga notas de que está à disposição para esclarecimentos), mas onde o seu defensor informou que ele ainda não pode ser encontrado no local”, diz o delegado no pedido encaminhado à Justiça.
A defesa do frei solicitou que o processo fosse colocado em segredo de Justiça. No entanto, o Ministério Público recomendou o indeferimento desse pedido com base no princípio da publicidade dos atos processuais.
No pedido, os advogados de Gustavo, César Augusto Moreira e Rafael Rosário Ponce, alegam que já foi determinada a quebra do sigilo telefônico do religioso e que, diante do apelo midiático do caso, a decretação do segredo de Justiça seria para preservar “a intimidade do investigado nos limites do que interessa ao elucidar dos fatos”, dizem no documento.
Tanto o pedido de prisão quanto o de colocar o processo em segredo de Justiça serão analisados pelo juiz da Vara Criminal do Fórum de Santa Cruz do Rio Pardo.
Ângelo Marcos dos Santos Nogueira, de 40 anos, foi atropelado e estava internado em estado grave na Santa Casa de Misericórdia de Santa Cruz do Rio Pardo . Nesta sexta-feira (13), ele foi transferido para a Santa Casa de Ourinhos (SP) e segue internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Motorista que atropelou suspeito de furtar igreja em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) foi identificado como sendo o frei Gustavo Trindade dos Santos — Foto: Reprodução
Na última terça-feira (10), a Justiça negou o primeiro pedido de prisão feito pela polícia. O Ministério Público havia recomendado o indeferimento do pedido no mesmo dia.
O juiz Pedro de Castro e Sousa negou o pedido de prisão com o argumento de que, embora haja gravidade na conduta, a Justiça entende que o frei não oferece risco, e que os advogados estão colaborando com as investigações.
“Não há indícios de possível reiteração delitiva ou de que o investigado se furtará a aplicação da lei penal, sendo possível a sua manutenção em liberdade neste momento, com o consequente indeferimento do pleito policial”, explicou o juiz.
No entanto, o juiz concedeu a quebra de sigilo dos dados telefônicos, considerando que, até aquele momento, o investigado não havia se apresentado à polícia para ser ouvido.
A decisão da Justiça determina que as empresas de telefonia forneçam os históricos de chamadas telefônicas, com todas as ligações e mensagens, efetuadas e recebidas, entre 7 de maio de 2022 e 9 de maio do mesmo ano.
Casa paroquial da Igreja São Sebastião, em Santa Cruz do Rio Pardo (SP), foi furtada; suspeito foi atropelado por padre — Foto: Thais Andrioli/TV TEM
Segundo o boletim de ocorrência, o homem atropelado furtou a casa paroquial da Igreja São Sebastião arrombando uma das janelas. Ele fugiu do local levando três moletons e uma camiseta.
Suspeito de furtar igreja é atropelado quando fugia em Santa Cruz do Rio Pardo
Os policiais militares foram chamados por testemunhas, que anotaram a placa do veículo. Pelas imagens dá para ver que o carro chega a entrar na garagem da loja de tintas (veja acima).
Ângelo foi socorrido com ferimentos graves e levado para a Santa Casa de Misericórdia de Santa Cruz do Rio Pardo, onde passou por cirurgia.
Portão de loja em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) onde suspeito de furtar igreja foi atropelado por padre ficou danificado — Foto: TV TEM/Reprodução
O caso é investigado como tentativa de homicídio qualificado e omissão de socorro, uma vez que o padre fugiu do local sem socorrer a vítima.
A polícia também apura o furto na secretaria paroquial, que teria motivado a atitude do padre. Por esse crime, Ângelo foi preso em flagrante no dia do atropelamento, mas será investigado em liberdade por furto qualificado.
O carro da Diocese usado pelo padre no dia do atropelamento foi localizado na segunda-feira (9) no estacionamento do Colégio Dominicano e encaminhado para a perícia. A localização foi fornecida por um dos três advogados do frei que se apresentaram na delegacia no mesmo dia. O carro foi encontrado com a frente a a lateral bastante danificada.
Em nota divulgada na terça-feira, a diocese informou que o frei Gustavo “foi afastado de suas funções religiosas e se encontra disponível para livremente cooperar com a Justiça”. Ainda conforme a igreja, o padre está arrependido pelo ato e pede orações pela saúde do homem atropelado.
Carro usado pelo padre no atropelamento foi apreendido em Santa Cruz do Rio Pardo — Foto: Polícia Civil/Divulgação
De acordo com a polícia, o frei Gustavo é habilitado, mas deveria ter renovado a carteira de habilitação em fevereiro de 2020. No entanto, o padre deve, a princípio, responder apenas administrativamente pela CNH junto ao Detran. A defesa alega que ele agiu em legítima defesa da propriedade da igreja.
O caso repercutiu nas redes sociais e o padre Júlio Lancellotti, conhecido por ações para ajudar pessoas em situação de rua na capital paulista, criticou a atitude do religioso no interior de São Paulo.
Padre Julio Lancellotti postou o vídeo do acidente e criticou o atropelamento provocado por um padre em Santa Cruz do Rio Pardo — Foto: Padre Lulio Lancellotti/Instagram/Reprodução