O contraste entre a cor escura dos cachos da uva com o verde das folhas é marcante e encantador. São 25 mil pés de uva em uma propriedade de dez hectares em Porto Feliz (SP) onde metade da área é usada para o cultivo da fruta.
A família do produtor Jeferson Castilho planta uva há mais de seis décadas. É um serviço que foi passando por gerações.
Os parreirais são da uva niágara, que se adapta bem ao clima do interior de São Paulo e tem o manejo mais simples na comparação com outras variedades. A ideia é colher seis mil caixas até janeiro, o equivalente a quase 30 toneladas.
O mercado consumidor leva em conta a aparência de cada cacho. Por isso, o toque na fruta durante a colheita é delicado. Colher da maneira errada pode causar um prejuízo de 10% no valor da caixa.
“O segredo é você não lustrar muito a uva, pegar com delicadeza, tocar com muita sensibilidade no cacho para não danificar, para não tirar o brilho, porque aquilo ali agrega valor lá na frente. Se você passa o dedo, lustra, ela fica menos agradável aos olhos do consumidor”, explica Jeferson sobre a delicadeza na hora da colheita.
O preço dos insumos fez o custo ficar 30% mais caro. Por conta da falta de chuva, a produção vai ser em média 20% menor do que na safra passada. Os produtores, acostumados com o cultivo da fruta, nunca viram um ano tão seco e quente.
“A gente molhou de acordo com as condições que a gente tem aqui, mas a gente não pôde molhar muito, porque Porto Feliz está passando por um período muito difícil. Então, a gente não molhou tudo o que precisava”, diz Jeferson.
(Vídeo: veja a reportagem exibida no programa em 12/12/2021)
Clima e custos altos são desafios para produtores de uva
O planejamento é colher nas próximas semanas para abastecer as festas de fim de ano. A fruta estraga muito rápido. Como ela não é própria para exportação, a produção vai ficar no interior de São Paulo, além de estados vizinhos, como Paraná e Minas Gerais.
No barracão onde é feita a embalagem e a classificação, a falta de chuva fica bem evidente. Os cachos volumosos e com bagas cheias é considerado perfeito, mas também tem os com bagas pequenas e cheio de falhas, dois vindo da mesma propriedade.
Segundo Jeferson, é muito esforço para deixar a maior parte da produção com cachos volumosos e compensar os gastos maiores e a queda na produção.
No sítio de Fernando Soldera, são cultivados 13 mil pés da uva niágara, mil a mais que no ciclo passado. Mesmo assim, a produção deve ser 20% menor, reflexo da crise hídrica.
Do começo do ano até agora choveu em cerca de 80 dias na propriedade. O maior volume veio no primeiro trimestre do ano. Além disso, no segundo semestre vieram as geadas, e isso acabou atrasando o trabalho.
Fernando explica que, nessa época de seca, o trabalho aumenta em 30%, elevando o custo da mão de obra. Para amenizar os impactos da falta de água e conservar a pouca umidade dessa safra, o produtor aposta em camas de capim nos pés de uva.
Fernando espera colher 25 toneladas e deve comercializar a caixa com cinco quilos por R$ 6. A produção vai atender o interior de São Paulo e a capital, além do Distrito Federal.