Cães da Polícia Militar se aposentam com carreiras marcadas por grandes apreensões de drogas e prêmios em torneios | Presidente Prudente e Região


Max e Samurai são nomes conhecidos no meio K9, e não só na região de Presidente Prudente (SP). Veteranos do Canil do 8º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) e com faros exímios, eles ajudaram a apreender mais de 720 quilos de drogas, além de armas de fogo. Após tantas conquistas, assim como todo trabalhador, é a vez da dupla seguir para a merecida a aposentadoria e “curtir a vida”.

Cão de faro Max se aposenta com histórico de grandes apreensões — Foto: Stephanie Fonseca/g1

Cão de faro Max se aposenta com histórico de grandes apreensões — Foto: Stephanie Fonseca/g1

O tempo de serviço canino fica em torno dos oito anos na Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Maximus, ou Max, já bateu a meta. Atualmente, com cerca de 8 anos e 6 meses, ele deve “pendurar a guia” por idade.

Samurai, cão premiado em torneios do ramo, está prestes a completar seis anos de idade e teria mais um tempo de atuação. Contudo, ele teve problemas de saúde e a equipe optou por não o desgastar.

Samurai coleciona prêmios e apreensões de drogas — Foto: Stephanie Fonseca/g1

Samurai coleciona prêmios e apreensões de drogas — Foto: Stephanie Fonseca/g1

Ambos foram buscados em canis e adestrados desde filhotes pelo cabo da Polícia Militar César Alves da Conceição, e fizeram história dentro da corporação no Oeste Paulista.

“Missão mais que cumprida. Os dois são chave de ouro”, salientou ao g1 o condutor.

Quando liberados do serviço, os cães costumam ficar com o parceiro e condutor, que no caso de Max e de Samurai, é o cabo Alves. Em alguns casos, se o policial adestrador não tem condições de ficar com o cão, ele é doado para terceiros.

“O Max e o Samurai eu vou levar pra casa. A gente vai aposentar eles no auge, porque oito anos o cachorro ainda está bem, farejando, tendo ocorrências boas. A partir disso ele começa a decrescer e pra evitar isso a gente tira da rua o cão, até pra resguardar ele, porque um cão que tem oito anos de trabalho, várias ocorrências difíceis, a gente não quer que ele comece a decair. Então é pra preservar até o próprio animal”, explicou o policial adestrador ao g1.

O cabo Alves reforçou o quanto os cães o surpreenderam e também a outros policiais na rotina de trabalho. Com os faros, quilos de drogas que o homem não localizaria foram apreendidos e retirados de circulação.

O policial lembrou ao g1 fatos marcantes das carreiras dos parceiros. Confira:

Cão Max e o condutor, cabo Alves — Foto: Stephanie Fonseca/g1

Cão Max e o condutor, cabo Alves — Foto: Stephanie Fonseca/g1

O “antigão” Max, pastor belga malinois, nasceu em 2013 e foi buscado em Presidente Venceslau (SP). Desde que chegou ao Canil, ficou sob os cuidados de Alves.

O policial contou ao g1 que tinha acabado de entrar para a equipe e ainda tinha pouco conhecimento e estudo sobre o mundo canino, e o cão foi desempenhado mais para o faro, modalidade conhecida pelo adestrador na ocasião.

“Ele pegou cada ocorrência que eu não imaginava que era possível”, destacou o PM Alves.

Com um ano e quatro meses foi a primeira ocorrência do Max. “Me surpreendeu”, contou o policial. “Foi junto com um cachorro que tinha aqui, que é o Kauê, mais antigo, mais experiente. A gente levou o Max junto como se fosse pra fazer um estágio”, lembrou.

Durante o andamento da ocorrência, Kauê e seu condutor, à época cabo Roberto Neves, haviam localizado droga em um ponto. Foi sugerido então que Max passasse pelo local também, e o cão indicou a presença de entorpecente em um ponto diferente. “Aí o cabo Roberto falou ‘Ele acabou de achar uma ocorrência real, aí também tem droga e o ponto era outro’. Pra mim foi marcante! A primeira ocorrência a gente nunca esquece”, recordou ao g1.

Com o passar do tempo, condutor e cão foram se entendendo melhor e vieram muitas outras ocorrências de sucesso. “Até aqueles que trabalhavam com a gente e não acreditavam em cão hoje em dia falam ‘Chama o cachorro que vai resolver’. Mudou totalmente”, afirmou ao g1.

Cão Max e policial se dirigindo à laje de residência onde havia droga — Foto: Cedida/Polícia Militar

Cão Max e policial se dirigindo à laje de residência onde havia droga — Foto: Cedida/Polícia Militar

Entre as ocorrências mais lembradas de Max está uma apreensão na Vila Operária, em Presidente Prudente. Havia denúncia de que um rapaz praticava o tráfico de drogas e possuía armamento. A Força Tática abordou o suspeito e encontraram entorpecente com ele. Já na casa do envolvido, nada foi localizado.

“Chamaram apoio do Canil e cheguei lá com o Max, lembro até hoje. Desembarquei o Max na casa, e ele começou a olhar pra outra casa, aí eu falei ‘a droga não está aqui, deve estar naquela casa’. Aí subimos no telhado e achamos armas e drogas. Foi a primeira ocorrência que tinha armamento também com o Max”, contou.

Muitas outras ocorrências em telhados foram destaque devido ao fato de Max.

Max apoiou em grandes apreensões de drogas no Oeste Paulista — Foto: Arquivo pessoal/César Alves da Conceição

Max apoiou em grandes apreensões de drogas no Oeste Paulista — Foto: Arquivo pessoal/César Alves da Conceição

Outra ocorrência surpreendente de Max envolveu uma carreta que transportava cerca de três toneladas de milho em grãos, durante uma operação em Presidente Epitácio (SP), na divisa do Estado de Mato Grosso do Sul.

Conforme Alves relatou ao g1, a Polícia Rodoviária abordou o veículo e o vento estava a favor do Max, que começou a olhar para o motorista da carreta e começou a latir. Ele levantou a mão e saiu de perto, mas o cão continuou a indicar a carreta. “Eu falei ‘Tem droga aí nessa carreta’” e soltou o Max. “Ele foi num fundo falso e achou 140 quilos de maconha. Aí o motorista já viu o cachorro latindo e falou: ‘Tem droga aí realmente’”, recordou.

A ocorrência foi em janeiro de 2020. Foram apreendidos 19 porções de maconha, 151 tabletes da mesma droga e R$ 1.954 em espécie.

Droga encontrada em fundo falso de carreta carregada com milho após indicação de Max — Foto: Arquivo pessoal/César Alves da Conceição

Droga encontrada em fundo falso de carreta carregada com milho após indicação de Max — Foto: Arquivo pessoal/César Alves da Conceição

Uma terceira lembrança foi nos prédios do Jardim Cobral, em Presidente Prudente. O Tático tinha uma denúncia sobre um apartamento usado somente para guardar droga, mas não havia sido especificado qual era o apartamento.

As equipes da Polícia Militar foram ao local, e moradores indicaram sem certeza qual seria o prédio. “A gente subiu, e o vento também estava a favor do Max. Aí no segundo andar ele começou a olhar pro prédio da frente. Tinha um sargento que tinha acabado de vir de São Paulo, nunca tinha visto a atuação do Canil, aí falei pra ele ‘Sargento, a droga não está aqui, está naquele outro prédio’. Quando apontei, olhei pra cara dele e [com ar duvidoso] ‘Ah, seu cachorro achou a droga do outro prédio? Então vamos lá’. Ele quis ir mais pra pôr em prova, né. Falou ‘Qual andar que tá?’ e falei ‘Se lá ele indicou no segundo, deve estar no segundo aqui’, e ele só testando”, contou.

As equipes chegaram ao segundo andar do outro prédio e uma moradora confirmou a movimentação suspeita ali. “Tinha quatro apartamentos. Daí ele [sargento] falou ‘Qual?’ e falei ‘Fica tranquilo, se ele [Max] achou lá do outro prédio, vai achar desse’. Aí ele indicou a porta, a gente chamou o chaveiro, abriu e tinha várias drogas lá. Depois daquele dia o sargento fala ‘Chama o Max que ele resolve’”, falou.

As últimas ocorrências de Max foram encontradas armas de fogo também. Houve uma desavença entre criminosos e disparo de arma de fogo. Os militares foram abordar um suspeito, que correu, e o viram jogar alguma coisa na mata. O Canil foi acionado e a arma foi localizada.

Cabo PM César Alves da Conceição e o cão Samurai — Foto: Stephanie Fonseca/g1

Cabo PM César Alves da Conceição e o cão Samurai — Foto: Stephanie Fonseca/g1

Em 2016, Samurai veio de Goiânia (GO) para estagiar em Presidente Prudente. Também da raça pastor belga de malinois, seu adestramento já foi mais fácil, pois Alves já possuía mais experiência e conhecimento devido à rotina com Max.

  • ‘Recrutas’ começam treinamento no Canil da PM, em Presidente Prudente
Samurai, em 2016, quando chegou ao Canil da PM em Presidente Prudente (SP) — Foto: Stephanie Fonseca/g1

Samurai, em 2016, quando chegou ao Canil da PM em Presidente Prudente (SP) — Foto: Stephanie Fonseca/g1

“O Samurai é fora de sério! O Samurai é um Max melhorado, quatro vezes, porque o Max é só de faro”, destacou o cabo Alves.

Nas ruas, Samurai trabalhava nas quatro modalidades: faro para entorpecentes, faro para armas de fogo, busca de pessoas e policiamento.

Pela experiência anterior, Alves treinou a parte olfativa de Samurai para droga. “Depois ele apresentou com busca de pessoa e também atuar em presídio. Na rebelião que teve em Lucélia ele se desenvolveu bem, não se sentiu incomodado com bomba, que é muito difícil pro cachorro atuar na parte efetiva e o Samurai desenvolveu muito bem essa parte”, disse ao g1.

Antes de contar as grandes apreensões de drogas apoiadas por Samurais, o adestrador enfatizou suas premiações. O malinois ganhou campeonatos paulistas, brasileiros e internacionais de cão de polícia, sendo pódio em meio a muita gente experiente.

Um dos torneios foi o Internacional K9 Olympics da América do Sul, realizado em Guarulhos (SP), com a presença e participação de juízes e competidores civis e militares de diversos países como Rússia, Estados Unidos da América (EUA), Panamá, Nigéria, Paraguai, Chile, Canadá, Emirados Árabes Unidos e de brasileiros renomados no meio cinotécnico.

Durante os cinco dias de competição, a equipe foi submetida a provas de habilidades como o faro de narcóticos, faro de explosivos, busca e captura, prova física, busca e salvamento e de ataque e lançado. Ao final da competição, Samurai conquistou os 1º e 2º lugares em faro de narcóticos em malas, 2º lugar em lançado, 3º lugar em faro de narcóticos em ambiente interno e 3º lugar na classificação geral.

“Me surpreendi com o Samurai. Não tem do que queixar”, frisou o cabo Alves.

Samurai em um dos torneio de que participou — Foto:  PM/Divulgação

Samurai em um dos torneio de que participou — Foto: PM/Divulgação

Max também participou de um campeonato em Sorocaba (SP).

Voltando ao dia a dia na rua, o cão se destacou em ocorrências com drogas que estavam enterradas. “Max também já achou, e com o Samurai foi em grande quantidade”, comentou Alves ao g1.

Uma delas foi no bairro prudentino Parque José Rotta. Uma abordagem revelou um suposto local com drogas, mas era uma pequena quantidade para tentar “despistar a equipe”. O Samurai entrou no endereço e seguiu para o sentido oposto das equipes.

“A equipe me chamou pra ir pra lá e eu falei ‘eu sigo meu cão’. Aí fomos eu e a soldado Lígia, e seguimos o Samurai. Nisso ele achou 40 kg de maconha. Não contente ainda, vi que ele estava com um comportamento mudado e continuamos a busca, e achamos um tambor com mais 60 kg de droga enterrada. Coisa que o ser humano não ia achar, ele achou”, revelou ao g1.

Tambor enterrado com droga dentro foi localizado com apoio do cão Samurai — Foto: Arquivo pessoal/César Alves da Conceição

Tambor enterrado com droga dentro foi localizado com apoio do cão Samurai — Foto: Arquivo pessoal/César Alves da Conceição

Outra atuação de sucesso foi em apoio à Polícia Rodoviária. “A gente achou 140 quilos de crack no tambor de ar. O cara tinha soldado e feito a funilaria, o rodoviário já tinha procurado e não tinha achado nada. Chamou a gente e ele [Samurai] conseguiu indicar no tambor de ar 140 quilos de droga”, recordou.

“A [ocorrência] do Samurai que marcou acho que foi essa da droga enterrada, porque a equipe foi para um lado e o cachorro foi para o outro, e eu segui o cachorro, e essa da carreta até hoje também me lembro. O Samurai surpreendeu em todos os aspectos, de obediência e tudo”, salientou.

Samurai em apoio à Polícia Rodoviária e grande apreensão de droga — Foto: Arquivo pessoal/ César Alves da Conceição

Samurai em apoio à Polícia Rodoviária e grande apreensão de droga — Foto: Arquivo pessoal/ César Alves da Conceição

Mesmo com cuidados médicos, ração de qualidade, vitaminas e proteínas, Samurai ficou doente. Com exames de sangue preventivos feitos rotineiramente, o problema de saúde foi detectado a tempo de cuidar e tratar.

“A gente trabalha em ambiente muito insalubre. Pra um cão de casa, ele vai ter uma vida normal, mas pra trabalho a gente não quer esforçar pra não agravar essa doença, a gente quer curar ele, Então, por isso, ele vai ser aposentado antecipado. A gente quer uma qualidade de vida pro cão, o que é importante, é nosso parceiro, você não quer o mal dele”, afirmou.

Os dois vão ser os primeiros cães que Alves vai aposentar. Ele declarou ao g1 que está tranquilo quanto ao futuro dos parceiros, pois permanecerá com ambos. “Tenho dois em casa e vou ter mais dois. Já tô ajeitando um espaço maior pra isso mesmo”, revelou.

Já quando o assunto é profissional, o cabo da PM enfatizou que foi “missão cumprida com os dois”.

“Quando você faz um trabalho que gosta, que almeja, não é trabalho, é diversão, e os cães passam isso pra gente, a segurança de você trabalhar. Quando você chega no local e os policiais com dúvida e seu cachorro tira essa dúvida se realmente tem essa droga ou não tem, é um alívio. Quando acha você vê a alegria até dos outros policiais, o alívio de ‘Hoje o crime não ganhou’. Então, a satisfação não tem preço. É muito bom”, destacou

Atualmente, o condutor prepara para o trabalho o filhote Blade, também pastor belga malinois. “A intenção é fazer um Samurai melhorado”, finalizou Alves ao g1.



Fonte: G1


18/05/2022 – Rádio Cidade FM

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