'Blackface': entenda o que é e por que é considerado ato racista



Do inglês, black, “negro” e face, “rosto”, a prática vai muito além da pintura da pele. Durante muitos anos, a ação foi usada para ridicularizar pessoas negras e servir de entretenimento. Na festa, calouros teriam sido obrigados a pintar o rosto com tinta preta para participar de uma gincana Arquivo Pessoal Um grupo de alunos da Unesp de Botucatu (SP) foi flagrado fazendo “blackface” durante um trote universitário, no último dia 25 de novembro. A atitude polêmica reacendeu o debate sobre por que a prática não apenas é ofensiva, como também racista. Na festa, calouros teriam sido obrigados a pintar o rosto com tinta preta para participar de uma gincana. Logo depois do evento, as imagens foram compartilhadas nas redes sociais por estudantes denunciando a prática. Para investigar o caso, a Universidade, na última quarta-feira (30), abriu uma comissão de apuração e afirmou que deve enviar às comunidades universitárias as devidas punições, se for o caso, bem como proceder com denúncias junto às autoridades policiais. Mas o que é o “blackface”? Origem do “Blackface” Do inglês, black, “negro” e face, “rosto”, a prática consiste na pintura da pele com tinta escura. Estipula-se que tenha iniciado por volta de 1830, nos Estados Unidos, em meio ao período de transição entre escravidão e abolição da escravatura. “Após a abolição nos Estados Unidos, para poder criar um mecanismo de subjetividade negativa sobre a população negra, passaram a usar estereótipos de forma negativa para poder caracterizar a população negra como incapaz de conviver com os direitos democráticos de liberdade. Ou seja, ela tinha liberdade, mas não tinha cidadania”, explica o professor e ativista antirracista Juarez Xavier. Ao contrário do que a normalização da prática deu a entender por muitos anos, o “blackface” não se trata apenas de pintar a pele de cor diferente. Calouros pintaram os rostos com tinta preta durante gincana Arquivo Pessoal Para Juarez, professor da Unesp Bauru e coordenador do Núcleo Negro Unesp para a Pesquisa e Extensão (Nupe), a origem da prática está diretamente atrelada à ridicularização de pessoas negras e tinha como finalidade a privação ao negro no exercimento da cidadania. O professor da Unesp também foi vítima de racismo no Dia da Consciência Negra. “A pesquisadora Patrícia Collins classificou essa e outras práticas como imagens de controle. Essas imagens negativas da população negra criam uma subjetividade que legitima as práticas de violência e negação da cidadania da população negra. Ela criminaliza o direito de cidadania da população negra e cria um viés social que legitima a brutalidade e a destruição dos corpos negros nas sociedades racistas”, comenta. No século 19, atores brancos usavam tinta para pintar os rostos de preto em espetáculos humorísticos, se comportando de forma exagerada para ilustrar comportamentos que os brancos associavam aos negros. Professor Juarez Xavier integra Comissão Permanente para Assuntos Étnicos e Raciais da Unesp TV TEM/Arquivo Essas personagens não tinham características positivas: falavam errado, eram mal caráter, preguiçosas, atrapalhadas, sexualizadas, violentas e animalescas. Através do “blackface”, pessoas negras eram ridicularizadas para o entretenimento de brancos. Estereótipos negativos vinham associados às piadas, principalmente nos Estados Unidos e na Europa. “Não é inocente a construção dessa imagem, ela tem consequência. Da destruição dos corpos não normalizados, da segregação desses corpos e da negação da cidadania. Essa estratégia foi utilizada em todas sociedades abertamente racistas que brutalizaram as populações não brancas”, conta Juarez. Imagens de Justin Trudeau usando maquiagem blackface em 2001 (centro) e anteriormente (esquerda e direita) BBC/Reprodução O professor explica que o uso do “blackface” surgiu numa época em que os negros nem eram autorizados a subir nos palcos e atuar, por causa da cor da pele. Popular, a prática continuou em programas de TV e no teatro por boa parte do século 20, chegando a se tornar um gênero de teatro próprio. No contexto brasileiro, a prática se popularizou especialmente durante o carnaval, quando pessoas brancas se fantasiam de “Nega Maluca” ou de “Índio” usando o argumento de que estão fazendo uma homenagem. No entanto, a prática é considerada desrespeitosa para essas culturas. O professor Juarez pontua que no cerne do problema, seja nos Estados Unidos, na Europa ou no Brasil, há a construção de mecanismos para justificar o racismo, sendo o “blackface” mais uma artimanha que busca atuar na representação do que seria a população negra. “Dizer que esse [blackface] é um problema lá de fora é falacioso e mentiroso. No Brasil, se você pega toda a representação do negro ao longo do século 19, ela é totalmente negativa. O homem negro é apontado como vagabundo, vadio, preguiçoso, incapaz de raciocinio lógico. Já a mulher negra é tida como lasciva, incapaz de confiança. Desse modo, vai se construindo um imaginário para justificar o extermínio dessa população”, explica. Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu (IBB) instaurou uma comissão de apuração para investigar o caso de racismo Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu/Divulgação Veja mais notícias da região no g1 Bauru e Marília Confira mais notícias do centro-oeste paulista

Fonte: G1


05/12/2022 – Rádio Cidade FM

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