Duas autoras do misterioso “cabide-carta” encontrado em Curitiba foram localizadas no final de abril, quase 40 anos após escreverem na peça. Elas disseram que tudo não passou de uma brincadeira de adolescentes. Entenda a história abaixo.
A peça foi encontrada em março deste ano pela empreendedora Graziela Mendes dentre duzentos cabides comprados em um bazar para equipar o brechó do qual ela é proprietária na capital.
O objeto veio escrito, de um extremo ao outro, com mensagens de quatro mulheres diferentes. E a partir daí começaram as “buscas” de Graziela.
Graziela Mendes adquiriu cabide em março deste ano, em Curitiba — Foto: Giuliano Gomes/PR PRESS
Por enquanto, duas autoras foram localizadas: Márcia Lopes da Silva Madureira e Marilsa Gasparotto Menini, que inicialmente foi identificada como Marília. Isso porque, na assinatura deixada por ela no cabide, um pouco da tinta da caneta apagou com o tempo e dificultou a leitura.
“Localizei Márcia e Marilsa, e conversei apenas com Márcia e com a irmã da Marilsa. Gostaria muito de encontrar com elas, de levar o cabide, e, então, se elas permitirem, gostaria de ficar com ele como relíquia. Mas gostaria que elas o tocassem novamente”, contou Graziela.
Atualmente, Márcia e Marilsa têm 55 e 53 anos, respectivamente. Quando escreveram as “cartas”, elas contaram que tinham 15 e 13 anos.
As mensagens foram escritas por elas durante um retiro espiritual em Ibiúna (SP). As duas, entretanto, moravam em Lucélia, também em São Paulo.
Márcia contou que ficou surpresa quando leu a notícia do g1 revelando que o cabide tinha sido encontrado. Ela recebeu o link da reportagem por uma colega de trabalho. Depois, conseguiu o número de Graziela e entrou em contato.
Márcia procurou Graziela pelo WhatsApp — Foto: Arquivo pessoal/Graziela Mendes
“Eu estava sentada tomando café na hora que eu recebi a reportagem de uma colega que perguntou: ‘O Márcia, você escrevia em cabide?’ […] Eu preciso ser sincera e falar que eu não me lembro de ter feito isso, mas quando eu percebi que era eu, eu até chorei na hora que eu reconheci a letra e o endereço de quando eu era solteira […] Já ri muito com isso, meu celular não parou desde que a reportagem saiu”, contou Márcia.
Márcia disse que não se lembra de ter escrito no objeto, e só percebeu que ela era uma das personagens da história porque reconheceu a própria letra e, também, porque na foto publicada do cabide, conseguiu ler o próprio endereço que anotou na mensagem, datada em 06/09/1982. Veja as cartas mais abaixo.
Curitibana chegou a fazer publicação nas redes procurando pelas ‘donas’ do cabide. Inicialmente ela imaginava que todas fossem amigas — Foto: Arquivo/Graziela Mendes
Marilsa, professora aposentada, disse que viu a notícia em um grupo que reúne moradores de Lucélia. Inicialmente ela não percebeu que a reportagem falava dela, uma vez que Marilsa foi referenciada erroneamente como Marília.
Quem percebeu que Marília, na verdade, era Marilsa, foi a irmã dela, ao aproximar a imagem do cabide e identificar o endereço.
“Foi uma surpresa. Volta na cabeça da gente momentos assim, que a gente viveu na época. Volta a lembrança da participação nestes grupos, coisas assim que eu não pensava há muito tempo”, disse Marilsa.
Além de Márcia e Marilsa, outras duas mulheres também assinaram o cabide: Suzi, na mesma data que as duas autoras encontradas, e Rita, que foi a primeira a assinar o cabide, em 1981.
Quanto a Rita, elas dizem que não sabem quem é. No caso de Suzi, elas tinham uma suspeita, fizeram contato, mas não conseguiram confirmar a autoria.
Apesar de não se recordarem do momento em que escreveram as “cartas” no cabide, Márcia, que ainda mora em Lucélia, e Marilsa, que atualmente vive em Sumaré, são unânimes quanto ao motivo de terem deixado as mensagens: uma brincadeira de adolescentes.
Cabide tem recados assinados por três mulheres que dizem ser de Lucélia (SP) — Foto: Giuliano Gomes/PR PRESS
“Eu acredito que nós fomos induzidas pela brincadeira da outra [Rita], por termos visto a mensagem dela, eu acho que isso nos levou a também fazer uma mensagem. Foi tipo uma corrente, uma deixou e a outra também quis deixar a marca”, deduziu Marilsa.
Márcia brincou que aquele foi o jeito delas se comunicarem, já que, na época, não existiam redes sociais.
“Não tinha Facebook, não tinha Instagram na época […] Foi a nossa forma de deixar uma mensagem. Apesar de ter escrito pra mandarem cartas pra mim, não me lembro de ter recebido”.
“Aqui é sua amiga Márcia, de Lucélia, do retiro espiritual de 06/09/1982. Quem usar esse cabide, por favor, mande-me um cartão ou carta para a Rua…”.
“Aqui deixo meu nome, Marilsa… Mande uma carta para meu nome. Endereço…”.
Revelado o mistério do cabide, a empreendedora de Curitiba avalia que fez novas amizades.
Inspirada pela história, ela disse que pretende incentivar os clientes do brechó a também escreverem “cartas” nos cabides do empreendimento que é proprietária, em um espaço colaborativo no bairro São Francisco.
Graziela quer que clientes comecem a escrever ‘cartas’ em cabides do brechó — Foto: Giuliano Gomes/PR PRESS
“Vou lançar essa ideia de cabides como cartas, quem quiser pode deixar o contato ou deixar uma mensagem assinada, para que outras pessoas o leiam e se inspirem”.