Um sonho inusitado que se transforma em uma história de superação. É assim que um jovem de 14 anos, que não pode ser identificado pois cumpre medida socioeducativa no centro da Fundação Casa de Botucatu (SP), define a trajetória de vida.
Por meio de uma parceria com uma escola de dança, o adolescente tem a oportunidade de frequentar aulas de balé clássico, um dos sonhos de infância. Ao g1, ele explicou que está sentindo o “sabor da liberdade” e que pretende seguir nas aulas, mesmo após sair da fundação.
“É realmente o ‘sabor da liberdade’ por demonstrar o que realmente estou sentindo através da dança. Isto significou muito para mim, pois, além de tudo, minha família me aceitou como sou. É um ato de libertação”, explica.
O jovem também disse que começou a gostar da modalidade quando tinha a oportunidade de conferir filmes com bailarinos. Porém, o adolescente disse que tinha receio em admitir o gosto pelo preconceito que poderia sentir. Mas, dentro da fundação, conseguiu driblar a situação e subir aos palcos.
“Adoro as trilhas sonoras que envolvem o balé, mas o que mais admiro são os passos e a coreografia e de como a dança demonstra os sentimentos das pessoas, é ali que consigo extravasar meus sentimentos”, lembra o jovem.
Como explica o diretor do centro, Eder Carlos Trindade, a vontade do jovem de praticar esse estilo de dança foi descoberta dentro da fundação.
“Nos encontros com as equipes do psicossocial e do setor pedagógico, o jovem foi relatando que tinha muita admiração pela dança, em especial o balé, justamente por conta de clássicos como ‘O Quebra Nozes’, de Tchaikovski. Esse musical já foi inúmeras vezes adaptado para filmes de franquias infantis e o jovem os assistia quando era pequeno. Infelizmente, esse desejo dele era visto com muito preconceito e acabou sendo desmotivado”, destacou.
Jovem da Fundação Casa de Botucatu começou a gostar do balé enquanto assistia a filmes com os bailarinos — Foto: Fundação Casa/Divulgação
Ao descobrir a admiração do adolescente pela dança, a equipe do centro decidiu usar o balé como uma ferramenta na criação de uma ponte para algo que possa nortear a vida do jovem no pós-medida.
“Fomos então em busca de escolas que pudessem oferecer esse tipo de aula para jovens em situação de risco e de vulnerabilidade social, como ele, e felizmente encontramos na escola de balé essa possibilidade”, destacou Trindade.
Com as aulas, o jovem começou a apresentar melhora em vários aspectos da medida socioeducativa, assim como explicou o diretor do centro educativo. “Ele passou a ter mais autocontrole e viu que o balé exige disciplina e concentração. Ao ganhar essas habilidades, vimos que ele passou a cultivar um ciclo de virtudes, que, por sua vez, impactou positivamente em outros aspectos de sua vida, como o estudo e a participação na medida socioeducativa”, concluiu.