Na história da humanidade há relatos de inúmeros acontecimentos de violência. Há casos extremos, onde o ódio revela sua maior forma de expressão, como o terrorismo. Em outros, não tão perceptíveis de imediato, estão os inocentes jogos de videogame com cenas de violência, vistos como forma de entretenimento, porém com consequências danosas.
Será que os limites sobre o que é violência estão confusos ou banalizamos seu sentido?
Claro que a violência nos incomoda, mas na maioria das vezes, não reagimos, mesmo perplexos com o que assistimos. Esta falta de reação é conhecida como efeito espectador ou Síndrome Genovese, um fenômeno social psicológico em que diante de uma situação de violência, a pessoa não oferece nenhum tipo de ajuda, pois considera que alguém auxiliará e que, portanto, ela não precisa tomar nenhuma atitude. Uma responsabilidade partilhada.
O efeito espectador não está apenas presente em situações de violência extrema. Mostra-se também em circunstâncias do nosso dia a dia que, de tão corriqueiras e até mesmo sutis, escondem nossa paralisia, como alguém furar a fila ou parar em uma vaga destinada a deficientes físicos, sem ter o direito sobre a mesma. Revela-se através do preconceito, da discriminação, do individualismo, da falta de direitos, da impunidade, da passividade, dentro de casa, no transito e em tantos outros espaços onde a falta de respeito é o denominador comum.
Os exemplos são inúmeros, mas por serem tão habituais não percebemos o mecanismo do nosso psiquismo.
Claro que é importante ressaltar que as características pessoais de uma pessoa influenciam consideravelmente na reação de quem presencia uma cena de violência. Nem sempre a ajuda será delegada. E as pessoas com mais tendência a ajudar são as empáticas, ou seja, as que conseguem se colocar no lugar do outro, de reconhecer o sentimento do outro.
No entanto, vivemos em uma sociedade cada vez mais individualista e o exercício da empatia tem sido cada vez menos praticado. Daí a frase “não quero intrometer” ou “não tenho nada com isso” são mecanismos defensivos para justificar a omissão. Tal comportamento é uma forma de negação, que não ajuda em nada e só reforça a banalização da violência.
Terceirizar a responsabilidade nos impede de tomarmos consciência do que está acontecendo e, assim, questionarmos os fatores que provocam tal postura. Este conformismo social nos dificulta perceber e compreender o movimento de ação-reação e a nossa responsabilidade, mesmo que indireta.
Exigimos respeito, mas até que ponto praticamos a arte da boa convivência? Quando delegamos apenas ao outro a tarefa de mudar, nos tornamos mais individualistas. O ciclo se repete.
Créditos: Joselene L. Alvim- psicóloga