Quem olhou para o céu no início da tarde da última segunda-feira (10) pôde perceber um fenômeno astronômico que deu uma forma diferente ao principal astro do nosso sistema solar, no interior de São Paulo.
As imagens logo se espalharam pelas redes sociais e suscitaram dúvidas entre entusiastas da astronomia. É o caso do autônomo Rafael Botter, que registrou, por volta de 12h30, a formação de um halo solar no céu de Ibitinga (SP).
Halo solar ocorre quando a luz do sol atravessa cristais de gelo presentes na atmosfera da Terra — Foto: Paulo Rafael Botter/Arquivo pessoal
“Sempre estou olhando para o céu, fazendo observações astronômicas, e esse fenômeno estava mais nítido no céu e o clima ajudou bastante”, conta Paulo.
De cores intensas, o fenômeno forma um círculo multicolorido em volta do sol e é responsável por deixar o cenário ainda mais bonito.
O professor Rodolfo Langhi, coordenador do Observatório de Astronomia da Unesp de Bauru (SP), explica que um halo só ocorre quando a luz do sol, ou da lua, atravessa uma parte da alta atmosfera, onde estão presentes cristais de gelo.
Com isso, a luz sofre alguns desvios ao atravessar estes cristais e depois chega aos nossos olhos, trazendo um aspecto parecido com o de um arco-íris.
Halo também pode se formar ao redor da lua e é chamado de halo lunar — Foto: Carlos Renato/Arquivo pessoal
“Um halo pode aparecer tanto em volta do sol, quanto da lua. A luz do astro atravessa a nossa atmosfera, e a sua direção é afetada por estes cristais de maneira bem característica, desviando a luz em certo ângulo igual (geralmente de 22 graus), resultando um total de raios luminosos num formato circular, do ponto de vista de uma pessoa aqui no solo”, explica.
Sendo assim, o halo solar é um fenômeno óptico que ocorre na troposfera, camada mais baixa da atmosfera terrestre, com espessura de 12 km, podendo alcançar até 17 km de altura.
No entanto, para que o halo se forme, são necessárias algumas condições, em especial a formação de cristais de gelo na atmosfera, pois são eles que vão funcionar como espelhos das luzes, causando a dispersão dos raios solares.
O professor Rodolfo Langhi explica como esses cristais de gelo se formam na atmosfera e por que, mesmo diante de altas temperaturas como as geralmente registradas no interior de SP, esse fenômeno é possível de ser visto daqui.
“Na parte alta da atmosfera, temos temperaturas baixas, fazendo as gotículas de água congelarem, transformando-se em cristais de gelo. Mesmo que aqui no chão esteja quente, isso não ocorre lá em cima, pois, quanto mais alto subimos, mais baixa é a temperatura e a pressão atmosférica. Tão baixa é a temperatura que a água lá congela, formando os cristais de gelo”, conta.
Moradores de Bariri também registraram halo solar na última segunda-feira (10) — Foto: Emerson Donizete de Pauli/Arquivo pessoal
Outra condição para a formação de um halo solar é o tipo de formato desses cristais, geralmente de tamanhos microscópicos.
“Estes cristais devem ter um formato bem específico. São bem minúsculos (microscópicos) e possuem um formato hexagonal, ou seja, é um bloquinho de gelo com seis faces laterais planas e uma face plana em cada uma das duas bases”, explica o professor.
Desta forma, os cristais de gelo funcionam como pequenos prismas que recebem a luz branca e a dividem em cores primárias, surgindo, daí, uma espécie de arco-íris.
Embora algumas pessoas relacionem o halo solar à chuva, Rodolfo Langhi garantem que a formação do círculo colorido ao redor do sol nada tem a ver com a possibilidade de precipitações. Diferentemente do arco-íris, que é inerente à água.
“De certa forma, podemos dizer que o fenômeno se assemelha ao arco-íris, mas, no caso do arco-íris, o fenômeno ocorre com gotas de água líquida, ao passo que o halo ocorre com água sólida (gelo). A luz, ao atravessar a água, sofre desvios internos na gota (ou no cristal de gelo) e acaba saindo de volta ao ar. Mas, ao sofrer estes desvios dentro da água (líquida ou sólida), a luz branca acaba sendo separada em suas cores, do vermelho ao azul, uma vez que a luz branca é a mistura de todas as cores. O resultado é uma faixa colorida, que chamamos de arco-íris ou de halo”, relata.
Outra peculiaridade do fenômeno é que ele não está atrelado a um período ou local, podendo, portanto, ser visto de qualquer lugar do mundo, caso haja condições exatas para a sua formação.
“Os halos podem ocorrer em qualquer período do ano e em qualquer região, pois não dependem da temperatura em solo, mas, sim, da temperatura lá em cima. Há um tipo de nuvem, chamado de cirrus cirrostratus, que possui tais cristais. Portanto, é preciso sua formação, bem como um céu limpo para que o fenômeno seja observado”, conta.
Além de Rafael Botter, de Ibitinga, moradores de Bariri (SP) também registram o fenômeno no centro-oeste paulista e compartilharam nas redes sociais.
“Foi um momento muito especial, poder fazer observações astronômicas e poder compartilhar o conhecimento com todos, não tem preço que pague isso. Já dizia meu ídolo Stephen Hawking; ‘lembre-se de olhar para as estrelas e não para baixo, para os seus pés. Tente achar sentido no que você vê e pergunte sobre o que faz o Universo existir. Seja curioso'”, relatou Rafael Botter.
Embora algumas pessoas relacionem o halo solar à chuva, especialistas garantem que a formação do círculo colorido ao redor do sol nada tem a ver com a possibilidade de precipitações — Foto: Reprodução/Redes sociais